terça-feira, 23 de abril de 2013

Acontece E O Pato Admira #3

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Pois bem, Marujos.
Preciso usar de um trocadilho barato para dar inicio a esse post: "Enquanto Lisboa Arde, o Rio de Janeiro Pega Fogo" e o Pato&Ganso se dana a admirar os feitos alheios!
O trocadilho refere-se a um livro mui bueno intitulado: Enquanto Lisboa Arde, o Rio de Janeiro Pega Fogo, de Hugo Gonçalves, mas não é dele que por ora falaremos. Segue o TOP 5 (de volta), da semana:







domingo, 14 de abril de 2013

Homero? Nightwish? Quem atou minhas mãos ao timão?

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Por Melissa Lima



Com licença poética, para estrear meu cantinho aqui no PATO & GANSO, quero convidar o leitor a adentrar o mundo da literatura clássica, do metal finlândes e dos vídeos amadores dos fãs que circulam livremente youtube afora... e o que uma coisa tem a ver com a outra? Elementar, caro leitor... elementar: uma das obras mais importantes da nossa cultura herdada dos "míticos gregos", é o poema épico Odisseia, de Homero (estimativa: século VIII a. C.) - sim, sim... aquela Odisseia do cara que parte para o mar infinito em busca de conhecimento e encontra muito babado e confusão até sua volta ao lar. Se ele tivesse Google Earth na época, não ia precisar arriscar seu esbelto pescocinho grego para descobrir que há vida em outros planetas. Mas, como o Google é um privilégio moderno, também resultado das empreitadas desse homem curioso lá do início da nossa civilização, eis que nosso herói parte em busca de um novo mundo. Em uma das passagens mais belas e intrigantes da aventura, Odisseu e sua tripulação precisam atravessar o Mar das Sereias.

Para quem não se lembra, o mito das sereias fala de belas criaturas aquáticas com um corpo, metade humano, metade peixe e que possuem um canto divino que encanta e atrai fatalmente seus ouvintes. Fatalmente porque sua beleza é tão... imensurável (!) que seus espectadores entram em um transe profundo, lançando-se ao mar, indo de encontro à melodia maravilhosa e acabam, veja que coisa, se afogando! Aliás, eu lhe pergunto, o que é a arte senão um convite fatal para experimentar sensações das quais nunca mais iremos nos recuperar? O belo é mortal, se partirmos do princípio de que ele nos convida a vasculhar os confins mais obscuros de nossa alma, nossos mares mais revoltosos, correndo o risco de nos afogar para sempre na melancolia absurda da existência humana...

Enfim, divagações à parte, já advertidos por uma certa feiticeira Circe, a tripulação de Odisseu para de remar, ao se aproximarem do Mar das Sereias, para colocar (argh!) cera nos ouvidos - como se já não tivessem o suficiente, navegando meses sem um cotonete sequer a bordo, mas, com sua licença poética: não sei, só sei que foi assim! - e realizar a travessia em segurança. Porém, um dos hobbies do herói, representado por Odisseu, a personificação do homem grego e sua sede de conhecimento, era provocar, desobedecer e desafiar Deuses, Divindades e afins. Assim, pelo bem da ciência, ele se recusa a fazer o mesmo que seus marinheiros e decide que vai passar por aquele trecho de ouvidos bem abertos. Então, ordena que o amarrem ao convés da embarcação e adverte: 

E se pedir me desateis, vós outros

De pés e mãos ligai-me com mais força.


Odisseu passa a ouvir um canto sem igual, que o atrai desesperadamente para além das tábuas firmes e sequinhas de sua embarcação. Ele se debate com cada vez mais força, em estado de êxtase e ouve até mesmo a voz de sua bela e abandonada esposa Penélope. O trecho é curto e por mais que a linguagem poética de Homero seja rica em termos e expressões afrescalhadas que nos passem uma ideia do que foi aquele momento, a sensação de estar atado ao convés de um navio, sendo puxado para o Mar é perfeitamente reproduzida na melodia e na letra da música The Siren, da banda finlandesa Nightwish.

Inspirados por essa passagem, eles conseguiram reproduzir de uma maneira muito mais sinestésica aquilo que as palavras de Homero não puderam expressar. A letra é um diálogo entre o suposto Odisseu finlândes e a sereia que chama por ele, como poderão conferir a seguir, através de uma tradução interlingual (de um idioma para outro) feita por ninguém mais, ninguém menos que mim:

A Sereia

Uma moça com um violino

Toca para os mares

Atentos ao som

Do chamado

Quem atou minhas mãos ao timão?

O zodíaco cai sobre mim

- Venha para mim!

Lá, em algum lugar, meu destino revela-se

Eu ouço, mas como verei?

Eu me amarrei ao timão

O vento fala com minhas velas

Não comigo

- Venha para mim!

Lá, em algum lugar, meu destino revela-se

Eu ouço, mas como verei?


Para fazer uma breve análise, comecemos com a metáfora da moça com um violino. O violino foi inventado inspirado em um outro instrumento proveniente do Oriente Médio. Esse tal de Oriente representa, para nós mortais do Ocidente, um mundo mítico, misterioso, inexplorado. Portanto, podemos entender a “simples” presença desse violino como uma alusão ao mundo dos mitos e ao próprio espírito explorador que guiava o homem clássico, sedento pelo saber, atento ao chamado do desconhecido. O som do violino é como o canto da Sereia. Eu diria mais: o canto da Sereia é o som do violino.

O marinheiro ouve a melodia e entra em estado de êxtase. Já sabemos que foi ele quem se prendeu ao timão, porém, seus sentidos estão tão confusos que ele nem se lembra de que a ideia de amarrar-se foi sua. O zodíaco como referência a uma outra instância, uma instância divina, além de reforçar a ideia do exótico, insere a noção de destino, muito forte na cultura grega. Veja que através do som do desconhecido o homem pressente sua sorte, mas não pode enxergá-la. Esse destino não lhe é paupável, assim como a sombra do futuro, ao qual sabemos que chegaremos, mas que não nos compete decifrar. O vento do destino empurra nossa embarcação para algum lugar sem dar maiores explicações.

Enfim, saindo do âmbito textual, como prometido na nossa definição de Tradução Intersemiótica (vide – coluna à sua direita), vamos à música! O som do violino mistura-se aos vocais magníficos da ex-vocalista da banda, Tarja, e juntos representam o divino canto da Sereia. O baixista Marco é o Odisseu nórdico que conversa com sua sorte velada e personificada no canto. O restante do “ambiente musical” cria efeitos muito subjetivos, sobre os quais poderia ficar horas falando, mas prefiro convidar o leitor a tirar suas próprias conclusões. Esse é um vídeo de um fã da banda, um ilustre desconhecido, que, à sua maneira, também é um tradutor da Odisseia. Assim como o Nightwish o traduziu para a música, ele o traduziu para a linguagem do vídeo-clipe. Sem mais delongas: apertem as cordas e boa viagem!






quarta-feira, 12 de dezembro de 2012